Acompanhe as últimas notícias sobre contabilidade nas principais áreas.

Volume do crédito vai ditar ritmo da economia

Volume do crédito vai ditar ritmo da economia

Concessão de empréstimos volta ao nível anterior à crise global

Fonte: EstadãoTags: crise

Leandro Modé

O crédito total no Brasil praticamente dobrou entre 2002 e 2009. Saiu de 22% do Produto Interno Bruto (PIB) ao final daquele ano para o recorde de 42,6% em abril, o equivalente a R$ 1,25 trilhão. Ainda é um porcentual baixo, se comparado à média internacional, mas suficiente para influenciar, como nunca antes no País, o desempenho da economia.

Foi em grande medida por causa da ausência de crédito que o PIB do quarto trimestre de 2008 caiu 3,6% em relação aos três meses anteriores, o maior recuo nessa base de comparação desde o início da série histórica, em 1996. Por isso, o crédito determinará o tamanho do crescimento daqui até o fim do ano.

Alguns especialistas acreditam que o expressivo desvio entre as projeções do mercado para o PIB do primeiro trimestre e o número oficial se explica, principalmente, por uma avaliação subestimada do papel do crédito na economia. Entre os analistas, a expectativa era de uma queda de 2% ante os três últimos meses de 2008, mas o realizado foi de -0,8%.

"As concessões diárias para pessoas físicas no primeiro trimestre voltaram ao nível em que se encontravam em setembro (quando a quebra do banco Lehman Brothers aprofundou a crise)", observa o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. Segundo ele, esses empréstimos somavam R$ 2,47 bilhões/dia em setembro, caíram para R$ 2,40 bilhões em dezembro e atingiram R$ 2,46 bilhões em março.

Com mais financiamento, argumenta, as pessoas compraram mais. A principal divergência entre as projeções de mercado e o que foi mostrado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ocorreu na variável consumo das famílias, que se expandiu 0,7% (depois de cair 1,8% no quarto trimestre do ano passado).

Nem todos os economistas concordam com o diagnóstico de Borges para o primeiro trimestre, mas são unânimes em afirmar que o crédito é vital para a recuperação do Brasil. "Se a crise financeira global voltar a piorar, haverá uma retração nos fluxos de capitais para o Brasil, o que significa menos crédito e o prolongamento da estagnação interna", diz o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa.

"O crédito vem ganhando importância no País, tanto para cima quanto para baixo. Quando falta, há uma parada brusca como a do quarto trimestre do ano passado", comenta a economista Thaís Marzola Zara, da Rosenberg & Associados. "A melhora do mercado financeiro em maio e junho deve elevar a oferta de crédito, o que pode dar mais fôlego à economia", diz ela, que projeta uma expansão de 0,3% para o PIB de 2009.

A mais recente pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) com seus associados indica que a expectativa é de uma expansão de 14% do crédito com recursos livres (excluindo dinheiro público) em 2009. Para as pessoas físicas, estima-se uma alta de 13,7% e, para as empresas, de 14,6%.

A partir de maio, os principais bancos do País anunciaram redução de juros e ampliação dos prazos de empréstimos para modalidades voltadas às pessoas físicas. "Analisamos as condições de mercado e vimos que havia a possibilidade de reabrir a linha de financiamento de automóveis em 72 meses", explica o diretor executivo do Itaú-Unibanco, Silvio de Carvalho.

Segundo Carvalho, a marcha ainda lenta da economia impede uma ambição maior do banco no crédito em 2009. "Não dá para esperarmos muitos anúncios (como o dos automóveis em 72 vezes) sem uma melhora da conjuntura." O maior banco do País projeta um crescimento da carteira de crédito entre 10% e 15% em 2009. Para o PIB, diz Carvalho, a expectativa está entre zero e uma queda de 0,5%.

O Banco do Brasil (BB) tem sido, até agora, o mais agressivo em termos de crédito desde que a crise global piorou. Em 25 de maio, a instituição anunciou uma destinação adicional de R$ 13 bilhões para empréstimos, além da redução das taxas de juros cobradas em nove linhas para pessoas físicas. "O desempenho do PIB no 1º trimestre mostrou que estávamos certos ao financiar o mercado interno", diz o vice-presidente de crédito do BB, Ricardo Flores.

Segundo ele, o BB "pretende continuar anunciando novas medidas (na área de crédito)". Flores diz que tanto pessoas físicas quanto jurídicas podem se beneficiar de eventuais novas reduções e ampliação dos prazos de financiamento. O banco projeta uma alta de 13% a 17% da carteira de crédito. Para pessoas físicas, a expectativa é de um avanço entre 23% e 25% e, para as empresas, de 16% a 19%. O que puxa a média para baixo é o agronegócio, com expansão esperada de 2% a 5%.

Dos três maiores bancos do País, o Bradesco é o que se mostra mais conservador quanto ao crédito, embora tenha anunciado recentemente a ampliação do prazo de financiamento imobiliário de 25 para 30 anos e do empréstimo para a compra de veículos zero quilômetro de 60 para 80 meses. A instituição acaba de revisar a previsão de alta do crédito para 10%, ante 15% antes. "É que alteramos nossa projeção de crescimento do PIB de entre 1,5% e 1,8% para zero", justifica Ademir Cossiello, diretor executivo do Bradesco.