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Conjuntura impõe maior cautela para as empresas

Conjuntura impõe maior cautela para as empresas

A maior demanda por crédito foi na modalidade 'capital de giro', que representa 55% da carteira PJ do BB.

Autor: Roseli LoturcoFonte: Valor Econômico

O cenário de incertezas em relação ao crescimento econômico, inflação no teto da meta, desvalorização do real frente a moedas estrangeiras e maior cautela dos empresários afetaram em cheio o apetite por crédito das grandes empresas do país. O resultado é que, se a maioria dos bancos trabalhava com uma meta de incremento de 15% nos empréstimos à pessoa jurídica este ano, essa projeção foi revista para baixo e não ultrapassa os 10% em média.

No primeiro semestre, boa parte da captação de recursos das grandes empresas veio das emissões de bonds (bônus) no mercado internacional, motivadas pelo apetite dos investidores em busca de ganhos com papéis de empresas de países emergentes. "O BB esteve em 16 operações, que somaram US$ 17,49 bilhões, de um total de US$ 24,83 bilhões de emissões do mercado", afirma Paulo Rogério Caffarelli, vice-presidente de Atacado, Negócios Internacionais e Private Banking do Banco do Brasil.

A instituição fechou o primeiro semestre com um crescimento de 28,8% em sua carteira de crédito para pessoa jurídica, com R$ 300,1 bilhões, sendo R$ 193,4 bilhões relativos a médias e grandes empresas - e com índice de inadimplência de 0,60%. A maior demanda por crédito foi na modalidade 'capital de giro', que representa 55% da carteira PJ do BB.

A moeda americana teve presença marcante nas emissões de bonds e representaram 93,2% do total das operações no mercado internacional no primeiro semestre, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). O Santander participou de 13 emissões até o dia 20 de agosto, que somaram US$ 5, 81 bilhões e € 2,25 bilhões, para prazos de 2016 a 2025 e spreads não revelados. "O começo do ano ofereceu boas condições para as empresas no mercado externo, com pagamento de taxas menores e prazos mais longos. Agora o mercado está mais reticente e cauteloso", analisa João Consiglio, vice-presidente de Corporate do Santander Brasil.

Mas a recente valorização do dólar frente ao real e a retomada do crescimento dos EUA inverteram esse humor ao encarecer as captações internacionais, o que fez o investidor exigir, no último mês, um prêmio maior para comprar papéis de empresas brasileiras. Segundo Caffarelli, do BB, os custos para a emissão de bonds externos têm como referência os Treasury de 10 anos (títulos do Tesouro americano) mais o spread, que, no começo do ano, variaram de 2,6% ao ano a 8% ao ano, dependendo da classificação de risco do emissor e da emissão. Os prazos para vencimento dos papéis giram em torno de 10 anos.

Os bancos também têm olhado cada vez mais para as debêntures. Depois de registrar um ano recorde, com R$ 101 bilhões em 234 emissões em 2012, a comercialização de debêntures em 2013 continua crescendo, apesar do ritmo menor. "De um total de 177 operações, que giraram R$ 43 bilhões, até junho, o BB participou de 56 ou em R$ 15 bilhões e atingiu um (market) share de 34,9% no período", afirma Caffarelli, cuja expectativa é atingir os R$ 21 bilhões nessa modalidade ao final de 2013.

Para o segundo semestre, o Santander acredita que a procura tanto por debêntures como por produtos de crédito vinculados a recebíveis das empresas continue crescendo e vê ambiente interno para isso.

A cautela das grandes empresas é vista de forma positiva por alguns bancos. "Por um lado, as grandes empresas estão bem capitalizadas e têm dinheiro para investir, por outro, têm uma relação dívida/Ebtida bem saudável", avalia Louis Bazire, presidente do BNP Paribas no Brasil, que tem 400 grandes empresas em seu portfólio e que participou de emissões externas que somaram US$ 2 bilhões este ano. O banco fez parte ainda de um rol de 16 bancos comerciais globais em um empréstimo sindicalizado para à Vale, no valor de US$ 2 bilhões no início de julho. A instituição francesa registrou globalmente uma queda de 5% no lucro líquido que encolheu 5% no segundo trimestre de 2013, chegando a € 1,76 bilhões. "A Europa vive as suas questões com a crise do euro. Têm também as incertezas em relação à política de juros e de incentivos a economia dos EUA. Agora, no Brasil, vejo um ambiente bom para as linhas de project finance, financiamento à exportação e repasses do BNDES", avalia Bazire, que afirma não ter mudando em absolutamente nada a política de concessão de crédito no país por conta do arrefecimento da economia.

O BNP Paribas prevê crescimento na intermediação de 15% a 20% este ano, apostando principalmente em serviços para filiais de empresas estrangeiras.

O Itaú BBA também não sentiu os efeitos, na prática, do menor ânimo do empresariado em relação à economia. "O que pode ocorrer, daqui para frente, é revisão dos investimentos futuros", afirma Alberto Fernandes, vice-presidente executivo da instituição. O segmento de grandes empresas, atendido pelo Itaú BBA, totalizou R$ 171 bilhões no primeiro semestre de 2013, cerca de 40% da carteira total do Itaú Unibanco, com crescimento de quase 16% sobre o saldo de junho de 2012.